Como Treinar o Seu Dragão 3
Foram 5 anos entre Como Treinar o seu Dragão 2 e este capítulo final, mas parece que o roteiro tomou só uma tarde desse processo todo. Não lembro bem se o 1 e o 2 tinham a pegada cômica tão pronunciada, mas aqui ela definitivamente encaixa mal, seja nas piadas recorrentes questionáveis ou em certas lutas que deveriam ser menos Kung Fu Panda e mais… emocionantes, talvez? O ritmo da narrativa também tem seus soluços (mals ae, foi mais forte que eu), tropeços e flashbacks forçados, mas não chega a ser terrível.
O que é terrível, mesmo, é como o texto se vale de uma porção de conflitos falsos e resoluções simplistas não só para fabricar uma tensão bem pobre (se a cena da gaiola gigante é meio tosca, o jeito que o vilão “descobre” a nova Berk é francamente bizarro) e esporar a trama (o conflito interno de Soluço resolvido em meio diálogo e o êxodo de Berk em um corte), mas para escorar os momentos mais emocionais do filme e da trilogia inteira. Aquele sacrifício heroico no (já bem anêmico e apressado) clímax quase não tem peso e a despedida é muito menos impactante do que poderia ser já que é bem óbvio que ela não será definitiva. Assim, já drenaram de força os principais momentos que pairavam sobre o desenvolvimento de toda a franquia.
O que dá para aproveitar são alguns elementos dramáticos mais fundamentais, com desdobramentos belos para os arcos de Soluço (que tem se repetido desde o primeiro, mas com evoluções naturais de escopo) e Banguela, além de pequenos detalhes autorreferentes, como a queda livre que ecoa o clímax do primeiro filme e o dragão afastando o focinho da mão do protagonista, invertendo uma das cenas mais marcantes da trilogia. Vale menção também, ainda que desenvolvida sem tanta elegância, uma reflexão sobre as incongruências da masculinidade e da liderança, com Soluço se firmando como um chefe definido não por sua virilidade, mas por outras qualificações, ao passo que outros personagens vestem o manto da hombridade performática unicamente para efeito cômico.
E que não se faça pouco caso da trilha sonora, novamente um belo trabalho de John Powell, e dos elementos visuais, já que este Como Treinar o Seu Dragão 3 tem uma porção de imagens dignas de figurar entre as mais bonitas da franquia, cuja identidade visual sempre foi um traço distintivo (amém Roger Deakins). É uma pena e uma baita tristeza ter sentido que é só em aspectos tão pontuais que esse filme faz jus como encerramento de uma história tão apaixonante.
(How To Train Your Dragon: The Hidden World, EUA, 2019. Dir.: Dean DeBlois. 104 min.)
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